Grupos de ensino prestam serviços a escolas menores
Por Beth Koike
Com o aumento da concorrência no setor de educação e a deterioração na economia, os grandes grupos de ensino
estão de olho em um novo segmento: a consultoria e prestação de serviços para escolas menores, sem gestão
profissionalizada. O negócio envolve a gestão administrativa e financeira do colégio, compras conjuntas de
materiais ou compartilhamento de serviços comuns, além de programas pedagógicos para desenvolver as
habilidades socioemocionais dos alunos.
As maiores empresas de ensino básico do país Somos Educação, Eleva Educação, Eduinvest, Pearson e a
Ilumno (exWhitney), de sino superior, demonstram interesse em prestar esse tipo de serviço. Vale pontuar que
cada um desses grupos está em um estágio diferente, uma vez que atualmente o grande desafio é precificar esse
tipo de trabalho. Também há resistência de algumas escolas em abrir dados estratégicos para um grande grupo
visto como concorrente. No entanto, o setor é unânime em afirmar que há uma forte demanda para consultorias
de gestão nas escolas. No país, há cerca de 40 mil colégios particulares, sendo que os mais fragilizados são aqueles
com menos de 500 alunos de escolas de educação infantil.
"Hoje, o trabalho de gestão é feito na camaradagem para escolas que compram os sistemas de ensino e têm direito
à assessoria pedagógica", diz Mekler Nunes, consultor de educação. "Ajudamos algumas escolas, compartilhando
as nossas práticas. Devemos lançar em 2017 um pilar de gestão escolar, que será um serviço pago, mas ainda não
definimos o valor", afirma Bruno Elias, presidente do Eleva Educação, grupo que tem 60 colégios e tem como
investidor o empresário Jorge Paulo Lemann.
A Pearson já tem iniciativas em estágio mais avançado. Os colégios que compram os sistemas de ensino COC,
Dom Bosco ou Pueri Domus, que pertencem à Pearson, têm descontos de até 50% em tarifas e taxas de juros nos
bancos que trabalham com a empresa britânica, e abatimento de 30% no aluguel das máquinas de cartões. A
Pearson oferece também estudos de para detectar o perfil dos moradores da região de uma determinada escola.
Mas esse tipo de serviço ainda é um negócio pequeno no Brasil, quando comparado a outros países. Na Índia, a
Pearson assumiu a operação de 35 escolas.
A Somos Educação maior grupo de ensinos fundamental e médio no país e controlada pela Tarpon quer deixar
de ser uma fornecedora de conteúdo e se transformar em um grupo de serviços educacionais. A recente aquisição
da editora Saraiva, por R$ 725 milhões, chamou atenção porque pareceu ir contra a tendência de redução do
mercado de livros didáticos, mas foi planejada sob essa nova estratégia da companhia. A ideia é que a escola
adquira o portfólio de livros da Somos e tenha acesso a serviços como compra conjunta de materiais, capacitação
de professores, ações para captação e retenção de matrículas e ofertas de cursos no contraturno. "O conteúdo
didático já está disponível na internet. O diferencial daqui para a frente é a forma de aprendizado e os processos
de gestão", destaca Eduardo Mufarej, presidente da Somos Educação.
O cenário de recessão fez a Eduinvest que reúne as escolas Anhembi Morumbi, Anchieta, Politec e Prime
diversificar seu negócio. A empresa vai replicar seu modelo pedagógico voltado a desenvolver habilidades
socioemocionais para alunos de outros colégios a partir de 2017. Essa metodologia já é adotada nas escolas da
Eduinvest e considerada uma das principais tendências na área da educação. "As competências do século 21 são
relacionadas à capacidade do jovem em tomar iniciativas, curiosidade, garra e capacidade de lidar com problemas
e fracassos e sociabilidade", destaca Marco Gregori, diretorgeral da Eduinvest. Os grupos Eleva e Somos têm
iniciativas semelhantes.
A Eduinvest colocou o projeto pedagógico no mercado diante do cenário de recessão. Em 2014, a ideia era captar
R$ 50 milhões e ter até 10 mil alunos em 2017. Mas o plano foi revisto e, agora, a estratégia é contratar um
financiamento bancário de R$ 10 milhões para aquisição de quatro escolas, sendo duas delas ainda neste ano e as
outras em 2017. "Esse recurso será para pagamento da primeira parcela. As demais serão quitadas com a própria
geração de caixa das escolas compradas", diz o diretor da Eduinvest que prevê dobrar a receita para R$ 40
milhões, em 2017.