Valor Econômico – Agronegócios – 26.11.2015 – pág. B16
Pai de Macri ainda tem dívidas no Brasil
Por Luiz
Henrique Mendes
Controlador da Chapecó Alimentos na década de 2000, o empresário
Franco Macri, pai de Mauricio Macri, recém-eleito presidente da Argentina, ainda responde indiretamente a
processos judiciais referentes à quebra do frigorífico brasileiro, em abril de 2005.
A Alimbras, empresa por meio da
qual o grupo Macri controlava a companhia catarinense, é alvo da massa falida da Chapecó e do BNDES, que era
acionista do frigorífico. A Alimbras deve mais de R$ 200 milhões para a massa falida e ao menos US$ 58 milhões ao
BNDES.
Um dos processos que o BNDES move contra a Alimbras remonta ao
financiamento que o grupo Macri obteve junto ao banco para adquirir o frigorífico, em 1998. O empréstimo,
de cerca de US$ 58 milhões, tinha ações da própria Chapecó como caução. Mas esse empréstimo não foi
quitado, o que levou o BNDES a impetrar uma ação contra a Alimbras para que o grupo Macri pague pela recompra das
ações oferecidas como caução.
Procurado, o BNDES confirmou que seu braço de participações, a
BNDESPar, mantém um processo em que cobra que a Alimbras pague pela recompra. A instituição não informou,
porém, o montante dessa dívida. Além disso, o banco mantém outras ações de execução de dívida contra a
Alimbras. Segundo uma fonte que acompanha o imbróglio, empresas do grupo Macri eram avalistas em outros
financiamentos feitos com o BNDES.
Além do BNDES, a massa falida da Chapecó processa a Alimbras por
dívidas que, em valores atualizados,
totalizam R$ 209 milhões. O montante se refere a contratos de mútuo
(empréstimos) feitos pelo frigorífico para a controladora Alimbras, segundo o advogado Alexandre Araújo, que
representa o Cavallazzi, Andrey, Restanho e Araújo, escritório que é o síndico da massa falida da Chapecó.
Segundo Araújo, esse processo esbarra em dificuldades como
encontrar patrimônio na Alimbras. Conforme outra fonte que acompanha o caso, a Alimbras foi constituída em 1995 e
era controlada pela holding argentina Socma, empresa do grupo Macri. No entanto, em 2001 o controle da
companhia foi repassado a outra companhia do grupo Macri a Icanex S/A, sediada no Uruguai.
Procurado, o empresário Franco Macri não foi localizado. Em
entrevista ao Valor em janeiro de 2007, Macri chegou a afirmar que "faltou apoio do BNDES". Na ocasião,
também disse que o banco teria recusado apoio devido a uma política interna alheia à avaliação do desempenho do
grupo.
Paralelamente às ações contra a Alimbras, o processo de venda
dos ativos da massa falida da Chapecó vem
avançando, conforme o advogado Alexandre Araújo. Em julho, a
Aurora, central catarinense de cooperativas, pagou R$ 235 milhões por uma unidade de abate e processamento de
suínos que pertencia à massa falida. A expectativa do advogado é que mais três abatedouros que hoje estão
arrendados sejam vendidos em 2016, o que ajudará a pagar parte "considerável" das dívidas.
Quando teve a falência decretada pela Justiça, a Chapecó tinha dívidas
de R$ 768,488 milhões montante
que, em valores atuais, somaria R$ 1,395 bilhão, conforme cálculos do
síndico da massa falida. Com 29,7% das ações do frigorífico, o Sistema BNDES (que inclui a BNDESpar e a agência
Finame) é também o maior credor da Chapecó.
Em 2005, as dívidas da Chapecó com o Sistema BNDES somavam R$
284 milhões. Até agora, o banco estatal informou que recuperou R$ 80 milhões desse total no âmbito da
falência. Mas o BNDES ainda tem créditos de R$ 467,5 milhões a receber, em valores corrigidos, segundo síndico
da massa falida.
O BNDES informou, ainda, que vem trabalhando em parceria com o síndico
da massa falida para "viabilizar a venda destes ativos e maximizar a recuperação de seus créditos à
luz das normas que regem o direito falimentar".
Atualmente, a massa falida da Chapecó tem R$ 213 milhões em
caixa. Conforme Araújo, a massa falida pretende vender os frigoríficos de frango localizados em Cascavel (PR) e
Xaxim (SC) que estão arrendados para Globoaves e Aurora, respectivamente. Há ainda uma unidade de suínos em Santa
Rosa (RS), que está arrendada para a Alibem.
De acordo com Araújo, a preferência da massa falida é realizar
uma operação na modalidade "venda
extraordinária", pela qual a unidade é alienada pelo valor
de avaliação com o aval de dois terços dos credores.
Juntos, os três frigoríficos estão avaliados em cerca de R$ 615
milhões. (Colaborou Marli Olmos, de Buenos Aires)