quarta-feira, 4 de maio de 2011

Game de educação financeira para crianças

Educação financeira: Goumi, criado por empresa de tecnologia voltada para a bolsa, simula cidade onde jogador precisa se sustentar plantando ou investindo.

Jogo ensina crianças a ganhar e lidar com dinheiro
Por Angelo Pavini, de São Paulo

O começo não foi fácil para Juliana Ramos da Silva. Animada com a agricultura, investiu pesado em uma plantação de abacaxis, mas perdeu tudo. "Eles amadureceram muito depressa e estragaram antes de eu colher", lembra ela, que passou por dificuldades, ficando até sem dinheiro para tomar banho. Hoje, Juliana aprendeu a lidar com as intempéries da agricultura e produz morango, abóbora e também o abacaxi, que vende para indústrias de sucos. "Ganhei muito dinheiro e já consegui comprar mais terras, além de decorar a casa e até arrumar umas roupinhas novas."
Na verdade, Juliana tem 14 anos e seus negócios são realizados em um jogo virtual, o Goumi, voltado para o ensino de finanças pessoais especialmente para crianças. Criado pela empresa de software para o mercado financeiro Cedro Market & Finances, o jogo surgiu em 2007 como forma de testar os sistemas e estratégias oferecidos para as corretoras e para a bolsa - a Cedro é responsável pelo simulador de ações da Bovespa. A partir deste mês, o Goumi estará disponível para qualquer pessoa.

A Cedro surgiu na incubadora de projetos da Universidade Federal de Uberlândia em 2004, desenvolvendo sistemas de redes neurais para o mercado financeiro, explica o sócio Leonardo Reis. "Mas na época, quando viemos para São Paulo, as corretoras não tinham ainda negociação eletrônica e nos dedicamos a criar plataformas para fornecer informações no home broker", diz. O passo seguinte foram sistemas de negociação eletrônica para os mercados futuros e de opções para dólar e juros. Depois veio o Simulação, simulador da BM&FBovespa para popularizar o mercado de ações. Hoje, a empresa tem seus sistemas em 45 corretoras do mercado.

A proposta do Goumi, além de ensinar finanças pessoais com exemplos práticos, é também promover a interação entre os jogadores, explica Reis. Com seus avatares (personagens virtuais que representam os próprios jogadores), eles conversam e visitam as casas uns dos outros, fazem festas e trocam experiências. Além disso, podem abrir janelas de conversa fora do jogo. "Queremos que eles aprendam a poupar, investir, gastar e até doar se ajudando", diz.

A ideia do consumo consciente é reforçada pelo fato de o jogador ter de cuidar do seu avatar. "Ele tem um nível de satisfação que exige que o personagem coma e beba bem, tome banho e descanse", diz Reis. Para fazer isso, ele precisa pagar pela comida e as contas de água e luz. "Se ele não se alimentar direito, comer muita bobagem, pode ficar doente e ter de gastar com remédios", diz. "Ou se não tomar banho, aparecem umas mosquinhas ao redor da cabeça dele".

Todos os jogadores recebem uma quantidade inicial de moeda para as despesas iniciais. Mas é preciso investir ou fazer algo para arrumar mais dinheiro para se manter. "Todos podem plantar, pois recebem uma casa com quintal, mas precisam escolher que sementes comprar e cuidar da produção até a colheita, irrigando as plantas", diz. Há também a opção de comprar fábricas que vão processar as frutas que outros plantam. "Existe toda uma cadeia de produção e consumo que define os preços e a dinâmica da economia", afirma Reis. Há também uma espécie de balcão de negócios onde os preços dos produtos são definidos.

Outra opção para quem não quer plantar ou ser industrial é trabalhar para outro jogador, explica Reis. "Ele pode cuidar das plantas do outro, por exemplo", diz ele. Segundo Reis, já há pessoas pedindo emprego.

O próprio jogo tem um sistema que impede que as crianças fiquem muito tempo na tela do computador. "O personagem tem um indicador de energia e chega uma hora que precisa dormir, se não fica doente", explica Reis. Assim, em determinado momento, é preciso desligar o jogo para o avatar descansar.

Tudo no jogo tem de ser comprado, como na vida real, afirma Reis. Por isso, há supermercados, farmácias e lojas na cidade. Mas há casos em que os jogadores se ajudam. "Um pode deixar o outro tomar banho na sua casa, ou emprestar comida ou remédios", diz. Ele lembra o caso de uma jogadora que gastou todo o dinheiro em sementes e ficou sem água para irrigar as plantas e recorreu a um amigo. Em troca, ele pediu parte da produção.

O contato entre os jogadores também é uma forma de ajudar no aprendizado. "Alguns jogadores veem a casa de outro mais rico e perguntam como ele fez para conseguir tudo aquilo, conversam e vão aprendendo com as experiências dele", afirma Reis.

Na cidade imaginária há também um banco e uma bolsa de valores, em que são negociadas as ações das empresas de sucos, madeira e tecidos. "Mas se todos comprarem ações de suco, ou se muita gente montar empresas do mesmo setor, os preços dos produtos e das ações caem", explica Reis. "O preço depende do consumo dos próprios jogadores".

O jogo foi desenvolvido para crianças entre oito e 16 anos, mas pode servir também para adultos, afirma Reis. "Queríamos ter não apenas um simulador de mercado, mas um jogo que pudesse atrair as pessoas com algo divertido."

A proposta ajuda as crianças a desenvolverem o senso de responsabilidade, e não só com dinheiro, afirma Juliana, que joga o Goumi há seis meses. "É difícil, você tem de cuidar de tudo, das plantas todo dia, jogar água, cuidar da casa e do bonequinho, que come, toma banho, corta o cabelo e dorme", lembra ela. O jogo faz também com que as crianças aprendam e gostem de matemática financeira. E assimilem noções de mercado. "O mais difícil é decidir o que plantar, que semente comprar, pois se o preço não for bom na hora de vender, você perde dinheiro", diz ela.

À medida que o jogador progride, ele passa para outros estágios, aparece mais terra e mais sementes para plantar. "Eu prefiro vender minha produção para outros jogadores, não na bolsa", afirma Juliana.

Ainda em fase experimental, o jogo já tem cerca de quatro mil usuários, a maior parte entre 12 e 14 anos. Muitos vieram do Facebook, que permitirá o acesso direto ao jogo com a mesma senha do sistema. Hoje, é preciso ter uma senha fornecida pela Cedro. Outro acesso será pelo site da empresa na internet.

O projeto do Goumi está sendo acompanhado por um grupo de professores que vai analisar o comportamento dos jogadores para criar estatísticas financeiras sobre os usuários. A expectativa é ter 100 mil participantes do jogo no primeiro ano.

Proposta de novo Código Comercial

Jornal Valor Econômico - Legislação & Tributos - E2
Uma proposta de novo Código Comercial

Jorge Lobo

O Brasil precisa de um Código Comercial ou ele é desnecessário devido à unificação do direito privado pelo Código Civil de 2002?

Um novo Código Comercial é imprescindível, como demonstrarei a seguir; antes, porém, cumpre enfrentar o argumento de que o direito privado foi unificado.

Os que sustentam haver o Código Civil absorvido toda a matéria mercantil não leram a exposição de motivos do supervisor da comissão revisora e elaboradora do Código Civil, Miguel Reale.

De início, ao enunciar as "diretrizes e os princípios fundamentais do futuro código", o professor Miguel Reale destaca, em itálico, que ele será a "lei básica, mas não global, do direito privado". Logo após, ao cuidar da "estrutura e espírito do anteprojeto", afirma: "Em primeiro lugar, cabe observar que, ao contrário do que poderia parecer, não nos subordinamos a teses abstratas, visando a elaborar, sob a denominação de "Código Civil", um "Código de Direito Privado", o qual, se possível fora, seria de discutível utilidade e conveniência", e, adiante, assegura: "Não há, pois, falar em unificação do direito privado a não ser em suas matrizes, isto é, com referência aos institutos básicos", para, afinal, arrematar: "... não nos tentou a veleidade de traçar um "Código de Direito Privado".

O Código Civil não regulou típicos e frequentíssimos contratos mercantis
Se não houve a unificação do direito privado, teria havido, pelo menos, a unificação do direito das obrigações?

Rubens Requião, em conferência proferida em 13 de agosto de 1975 perante a comissão especial do Código Civil, na Câmara dos Deputados, em candente crítica ao anteprojeto, nega, com veemência, que tenha havido o que a citada exposição de motivos, em seu item 10, denominou de "unidade do direito das obrigações".

Sob o enfático título "O fracasso da unificação", o professor Requião explica, com a inconteste autoridade de consagrado mestre de direito comercial: " Nossa crítica inicial, por isso, se dirige à estrutura básica do Projeto... Muita matéria privatista, com efeito, escapa de seu plano. Consiste a unificação, isto sim, na simples justaposição formal da matéria civil ao lado da matéria comercial, regulada num mesmo diploma. Constitui, repetimos, simples e inexpressiva unificação formal. Isso, na verdade, nada diz de científico e de lógico, pois, na verdade, como se disse na exposição de motivos preliminar, o direito comercial, como disciplina autônoma, não desaparecerá com a codificação, pois nela apenas se integra formalmente. O artificialismo desse critério criou no projeto a preocupação de proscrever o adjetivo "comercial" ou "mercantil".

Dirigindo-se ao presidente da comissão, deputado Tancredo Neves, pondera: "Senhor Presidente, a unificação dos Códigos já surgiu, entre nós, natimorta. O Projeto em várias oportunidades se descarta da unificação e, mesmo, da codificação, remetendo a regulação de certos institutos para "a lei especial", sem motivos de ordem técnica e regulamentar."

De fato, não houve sequer a unificação do direito das obrigações porque o Código Civil não regulou típicos e frequentíssimos contratos mercantis, como, apenas para exemplificar, os de: representação comercial, alienação fiduciária em garantia, gestão de negócios, penhor mercantil, conta corrente, operações bancárias, comércio exterior, arrendamento mercantil (leasing), faturização (factoring), franquia (franchising), know how, cartão de crédito, enfim, os contratos de massa, comerciais por excelência, que obrigaram à adoção de uma nova técnica, repudiada pelos civilistas: o contrato de adesão.

Em verdade, após a doutrina pátria e alienígena haver se debruçado sob a chamada "comercialização do Direito Civil", a partir da advertência do alemão Riesser, em 1894 e, ao longo do século passado, sob a denominada "generalização do direito comercial", outro fenômeno, de consequências ainda maiores, surgiu: o fenômeno universal da "publicização do direito", fruto de uma longa evolução, que começa no capitalismo comercial, passa pelo capitalismo industrial e, depois, financeiro, em que o direito é um instrumento a serviço da consecução dos fins econômicos e sociais do Estado.

Diante das imensas repercussões do dirigismo econômico e da intervenção do Estado na vida das pessoas e das empresas, o professor Antunes Varela viu-se compelido a afirmar que "esse novo Estado militante, que faz valer suas prerrogativas," provocou o "estouro das muralhas que separavam o direito público do direito privado". A mim me leva a aduzir: esse Estado intervencionista provocou o deslocamento do direito comercial do direito privado em direção ao direito público, nele, todavia, não se inserindo, mas ficando numa posição intermediária entre o direito público e o direito privado, transformando-se em um direito semipúblico, com método, espírito e objeto próprios, distintos dos do direito civil. Portanto, na mesma categoria do direito econômico, daí dever-se pensar no surgimento de um novo direito comercial, capaz de responder aos reclamos e anseios e necessidades de uma sociedade pós-industrial, na qual o Código Comercial não é apenas o meio adequado para mediar as relações entre produtores e consumidores, mas um conjunto sistemático de princípios e regras capaz de ordenar o mundo dos negócios resultante das profundas e irreversíveis mutações políticas, econômicas e sociais vividas pelo país desde 1850, data da promulgação do revogado Código Comercial.

Jorge Lobo é mestre em direito da empresa pela UFRJ, doutor e livre docente em direito comercial da UERJ

Registre as histórias, fatos relevantes, curiosidade sobre Paulo Amaral: rasj@rio.com.br. Aproveite para conhecê-lo melhor em http://www2.uol.com.br/bestcars/colunas3/b277b.htm

Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar