terça-feira, 26 de outubro de 2010

Escolas passam a ensinar mandarim

Valor Econômico - Brasil - 26.10.2010 - A4

Educação: Disciplina chega no ensino privado como optativa
De olho na China, escolas adotam o mandarim
Luciano Máximo | De São Paulo
26/10/2010
Luis Ushirobira/Valor

Georgia Neme, que pretende cursar medicina, acredita que língua do país asiático pode ser um diferencial

Georgia Neme, de 14 anos, cursa a 8ª série do colégio particular Visconde de Porto Seguro, em São Paulo, onde tem como disciplinas obrigatórias alemão, espanhol e inglês. Além disso, ela está empolgada com a possibilidade de estudar um nova língua. No começo de 2011, a escola vai adotar o mandarim como matéria optativa para alunos do 6º ao 9º ano. A iniciativa segue exemplo de dois colégios privados paulistanos de elite que já adotaram o idioma oriental em seus currículos - Mater Dei e Humboldt - e está na agenda de outras instituições tradicionais, como o Bandeirantes e o Vértice - este último classificado em primeiro lugar no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2009.

"É uma novidade boa, porque quanto mais línguas, melhor, ainda mais porque a China é o futuro. Pode ser um grande diferencial", diz Georgia, que já sabe que quer cursar medicina na Faculdade da Santa Casa de São Paulo dentro de quatro anos.

João Saad, também de 14 anos e na 8ª série, estuda mandarim com uma professora particular há dois anos e reclama de dificuldades para aprender. "[O mandarim] É legal, mas muito trabalhoso. Os sinais são difíceis de escrever, tem uma ordem complicada", diz. A três anos do vestibular, ele conta que pretende prestar administração de empresas e que foi influenciado pelos pais para aprender o novo idioma. "Eles acham que a China vai ser a maior potência econômica do mundo nos próximos anos e eu deveria estar preparado."

A decisão de incluir o mandarim no currículo do Visconde de Porto Seguro se baseou na proposta de ampliar a formação em línguas da escola e tomou como exemplo algumas experiências de escolas públicas e privadas do Canadá e da Coreia do Sul, visitadas por integrantes da direção no começo deste ano.

"São países sempre bem classificados nas avaliações internacionais e que se destacam pelo investimento em educação. Já temos uma formação plurilinguística e achamos que é a hora e a vez do mandarim, por ser uma das línguas mais falada do mundo e em função de tudo que vemos envolvendo a China no cenário econômico mundial", explica a diretora pedagógica Sonia Bittencourt.

Segundo ela, o mandarim é compulsório no ensino médio na maioria das escolas privadas canadenses e coreanas. "No Canadá, por exemplo, as melhores escolas públicas também contam com professores chineses ensinando o idioma como disciplina curricular obrigatória." No colégio Porto Seguro, no entanto, a disciplina será optativa - com cobrança adicional na mensalidade escolar - e restrita, inicialmente, ao segundo ciclo do ensino fundamental, do 6º ao 9º ano. "O ensino médio já está sobrecarregado. Os alunos têm quase um período integral de aulas, com espanhol, alemão e inglês e ainda a preparação para o vestibular, sem falar o que eles fazem fora da escola. Muitos têm agenda de executivo", conta Sonia, que não descarta estender o mandarim para o ensino médio.

As aulas de mandarim na escola a partir do ano que vem serão terceirizadas ao Centro de Língua e Cultura Chinesa (Chinbra), que dispõe de professores nativos que ensinam o idioma em empresas e universidades, como a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), em São Paulo.

A vice-diretora da entidade, Liang Yan, revela que há várias negociações de parceria em andamento com outras instituições privadas de ensino. "Nós atendíamos muitos empresários individualmente. Agora cresceu bastante a procura de colégios e universidades, que sabem da importância da língua chinesa. Empresas que fazem negócio com a China pagam salários altos para quem sabe falar o mandarim."

Na avaliação da especialista em educação Márcia Ângela Aguiar, professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ao incluir uma nova língua em sua base curricular, a escola precisa ter objetivos pedagógicos concretos. Ao contrário, o estabelecimento pode correr o risco de instituir um "simples modismo".

"A escola tem que ter claro qual é o seu projeto pedagógico e quais são seus objetivos na formação do jovem. Se eles consideram que a necessidade da inclusão de uma nova língua no currículo é preparar o jovem para atuar num mundo cada vez mais globalizado e aproximá-lo da realidade de um país considerado cada vez mais um protagonista mundial, a medida pode ser positiva. Mas é preciso ter cuidado para não superdimensionar os currículos, afinal os alunos que frequentam uma escola que permite incluir o mandarim no currículo podem estudar cursá-lo fora da escola", comenta Márcia Ângela.

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Eis o veículo (Motorella) que tenho utilizado para andar na ciclovia da Lagoa e ir ao trabalho sem suar